Governança no Turismo: como organizar o Destino e parar de procurar culpados

A estrada para o principal atrativo turístico está cheia de buracos. A cidade tem um potencial incrível, mas quase não é divulgada. Falta um evento que atraia visitantes na baixa temporada. 

De quem é a culpa? Da prefeitura? Dos empresários que não se unem? Do conselho que não funciona?

Essa confusão sobre responsabilidades paralisa o desenvolvimento de inúmeros destinos no Brasil. A boa notícia é que existe uma solução para esse caos: a governança no turismo.

Governança não é um termo burocrático para ficar em um plano diretor na gaveta. É uma estrutura de trabalho organizada, uma espécie de manual de instruções onde cada um, poder público, empresários e comunidade, sabe exatamente qual é o seu papel e como colaborar. 

Como especialista que vive a gestão turística há mais de 15 anos, vou te apresentar um guia prático, sem “burocratês”, para você organizar seu destino e destravar todo o seu potencial.

Quem é quem no turismo?

Pense no turismo de um destino de sucesso como uma orquestra sinfônica. Para que a música seja perfeita, cada componente precisa cumprir sua função em harmonia.

A Prefeitura

A prefeitura, por meio de sua secretaria ou departamento de turismo, é o maestro dessa orquestra. Ela não precisa tocar todos os instrumentos, mas sua função é reger. Suas principais responsabilidades são:

  • Garantir a infraestrutura: cuidar das “partituras” básicas para o turismo acontecer, como estradas de acesso, saneamento, limpeza urbana e sinalização turística.
  • Articular as políticas públicas: criar as leis de incentivo, buscar recursos estaduais e federais e garantir que o turismo esteja no plano de governo da cidade.
  • Induzir o desenvolvimento: atuar como um facilitador, conectando os empresários e promovendo o destino de forma institucional.

O maestro não vende o ingresso nem toca o violino, mas sem ele, a orquestra vira uma bagunça.

As associações e empresários

Os hotéis, restaurantes, agências, guias e artesãos são os músicos. São eles que estão na linha de frente, criando os produtos, prestando os serviços e encantando os turistas. Seu papel é:

  • Executar com excelência: oferecer a melhor experiência possível ao visitante.
  • Inovar e criar: desenvolver novos roteiros, pratos, eventos e produtos turísticos.
  • Unir-se para ter mais força: o associativismo é crucial. Um hotel sozinho tem uma voz; uma associação de hoteleiros tem poder de negociação. É por meio de associações fortes que o setor apresenta dados de faturamento e geração de empregos para justificar investimentos públicos.

O COMTUR

O Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) é a partitura, o lugar onde o maestro e os músicos se encontram para combinar a música que será tocada. É um colegiado que reúne representantes dos três setores (público, privado e terceiro setor) para:

  • Discutir e aprovar projetos.
  • Definir as prioridades para o turismo local.
  • Fiscalizar o uso de recursos do Fundo Municipal de Turismo.

Alerta: Um COMTUR forte é o cérebro do turismo municipal. Cuidado para que ele não se torne apenas um “fazedor de atas” ou um encontro para “tomar cafezinho”, sem poder de decisão real.

A estrutura da governança

Essa orquestra municipal faz parte de um ecossistema maior. Entender os níveis de governança ajuda a saber em qual porta bater para cada necessidade.

  • Nível Municipal: é a base de tudo, onde a magia acontece e o turista vive a experiência. É o campo de atuação do COMTUR.
  • Nível Regional: municípios com características e desafios semelhantes se unem em regiões turísticas. Aqui surgem as IGRs (Instâncias de Governança Regional). A grande vantagem é que, ao contrário do COMTUR, a maioria das IGRs possui CNPJ, o que facilita muito o acesso a recursos para projetos que beneficiam toda a região.
  • Nível Estadual e Federal: são as esferas que definem as grandes políticas, como o Mapa do Turismo Brasileiro, e criam programas nacionais de crédito e promoção.

Mais que gestão, pessoas: O Método Turismo 360°

De nada adianta ter a estrutura de governança mais perfeita no papel se as pessoas que a compõem não estiverem alinhadas e saudáveis. Por isso, na Acordum, desenvolvemos o método Turismo 360°, que conecta quatro pilares essenciais:

  • O CPF: tudo começa em você. No gestor público motivado, no empresário que cuida da sua saúde mental, no líder que tem clareza do seu propósito. Pessoas saudáveis constroem negócios e destinos saudáveis.
  • O CNPJ: com o CPF em ordem, estruturamos o negócio. Seja o plano estratégico de uma secretaria de turismo ou o plano de marketing de um hotel, é a organização que transforma boas intenções em resultados.
  • O Cliente: para quem estamos fazendo tudo isso? A governança só faz sentido se o resultado final for a atração de um turista que valoriza o destino e vive uma experiência memorável.
  • O Território: é a consequência de tudo. Quando pessoas, negócios e clientes estão em harmonia, o território (município ou região) se desenvolve de forma sustentável e próspera.

Como sempre digo, “no turismo, a gente troca o pneu com o carro andando”. Esses quatro pilares precisam ser trabalhados ao mesmo tempo, de forma integrada e dinâmica.

A governança turística, no fim das contas, é sobre colaboração inteligente. É parar de procurar culpados e começar a assumir responsabilidades compartilhadas. Organizar a casa é o primeiro, e mais importante, passo para construir um destino forte, resiliente e desejado por todos.

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